quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Invasão Vertical dos Bárbaros - Mário Ferreira dos Santos




A presente obra, escrita pelo filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, foi publicada em 1967 e inaugurou uma coleção chamada Uma Nova Consciência composta por outros livros do autor.

O livro é divido em duas partes, mas ainda no prefácio o autor trata esclarecer alguns termos que são fundamentais para o entendido do que se seguirá. Inicialmente o autor define o termo bárbaro.  Usado por gregos e romanos para referir-se ao estrangeiro, com o passar do tempo, o termo passou a designar o não civilizado, o inculto. É nesse sentido que o termo é usado no livro. O autor também descreve os tipos de invasão, usando os casos da Grécia e de Roma como analogias. Primeiramente, a invasão horizontal, que se processa a partir da penetração pacífica ou violenta de povos em um determinado território já ocupado por outro povo, impondo-lhe assim os seus costumes. Já a invasão vertical, se processa pela cultura, minando os seus fundamentos, abrindo assim, espaços para que esta seja solapada. É dessa invasão vertical de que trata o autor nesse livro.

Na primeira parte, Invasão Vertical dos Bárbaros na Sensibilidade e na Afetividade, o autor descreve como os bárbaros tem usado a afetividade para contrapor a razão. E os exemplos são vários: a supervalorização da força, a valorização do corpo em detrimento da mente, a disseminação do mau gosto, a exploração da sensualidade, a valorização do criminoso como um ser inteligente e hábil ou, até mesmo, apenas como uma pessoa doente.

Na segunda parte, O Barbarismo e a Intelectualidade, é descrito o processo pelo qual a inteligência tem sido desvalorizada e com o “especialista” tem sido cada vez mais valorizado. Como a universidade, a despeito do nome e da sua origem, tem servido aos propósitos bárbaros, na medida em que estas castram a imaginação de seus estudantes e abraçam cegamente as ideologias dos gurus pseudointelectuais.  Aqui também é tratada a relação entre Filosofia, Ciência e Fé e como o materialismo tem tomado conta dos círculos “intelectuais” da atualidade.

Invasão Vertical dos Bárbaros é uma manifesto. Livro escrito há cinquenta anos, mas que poderia muito bem ter sido escrito ontem, tal a atualidade dos temas abordados. Como uma espécie de profeta, Mário Ferreira dos Santos clama: “Bárbaros intramuros!” Cabe identificarmos quem são esses bárbaros e como eles agem, para que o melhor da cultura ocidental não sucumba.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Graça Resistível - Zwinglio Rodrigues






A presente obra, nos seus seis capítulos escritos por Zwinglio Rodrigues, trata do quarto artigo da Remonstrância, a Graça Resistível. Segundo essa doutrina, é possível o ser humano resistir a graça salvadora de Deus, diferentemente da sua rival calvinista (Graça Irresistível) que ensina a impossibilidade de tal resistência.
Inicialmente são trabalhados os conceitos das palavras bíblicas, tanto no Antigo Testamento (hesed e hen) quanto no Novo Testamento (charis), que são traduzidas por graça. Aqui o autor elucida o significado de cada palavra levando-se em consideração o seu contexto.
No segundo capítulo é feita uma descrição teológica das diversas operações da graça: graça preveniente, graça suficiente, graça eficiente, entre outras. No entanto o autor deixa claro que “não há aqui uma fragmentação da graça, mas a compreensão da existência de uma graça e seus mais diversos modos de operacionalidade”.
O autor prossegue no seu terceiro capítulo fazendo algumas importantes considerações sobre a graça no pensamento teológico de Jacó Armínio. Além de definir o que é graça, o autor enfatiza a antiguidade dessa linha de pensamento, bem como trata de refutar as acusações feitas contra a doutrina da Graça Resistível.
No capítulo quatro, o autor explica a Graça Resistível, salientando que ser humano algum é “arrastado a aceitar a graça divina”. Armínio nega a irresistibilidade da graça porque esse modo de operação não faz jus às Escrituras. Outro ponto de destaque é o testemunho dos primeiros pais da Igreja que defenderam a possibilidade de se resistir a graça de Deus. No entanto, a crença na resistibilidade da graça divina não quer dizer que se defenda a salvação pelas obras. A graça de Deus é independente de qualquer eventual obra realizada pelo receptor. A única participação humana é receber o dom gratuito de Deus.
O capítulo cinco trata da análise de alguns versículos que dão suporte à doutrina da Graça Resistível. As análises são sucintas, porém bem referenciadas por grandes obras de eruditos bíblicos.
E por fim, no sexto capítulo, é realizado um estudo de caso a partir da rendição de Saulo de Tarso no caminho de Damasco. O autor analisa se a graça de Deus foi resistida ou não.
O livro é objetivo e bem didático. Ao final de cada capítulo há atividade de aprendizagem para o auxilio do leitor. Vale a pena destacar também o uso de imagens, diagramas e esquemas ao longo do livro que, sem dúvida, tornam a leitura mais agradável. Mais um ótimo livro publicado pela Editora Reflexão.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Perseverança dos Santos - Keith Stanglin




 
O livro Perseverança dos Santos é uma expansão de algumas palestras proferidas por Keith Stanglin, considerado um especialista na obra de Jacó Armínio, em algumas cidades no Brasil no ano de 2016.  A tradução coube a Wellington Mariano, também um grande estudioso do assunto e autor do livro O que Teologia Arminiana?

 


Os arminianos em geral não são unânimes no que diz respeito à doutrina da perseverança dos Santos. É quase consenso que Jacó Armínio não se posicionou a respeito do assunto, deixando a cargo das gerações futuras a tarefa de aprofundarem o estudo do tema. No entanto, alguns estudiosos afirmam que Armínio nunca defendeu a possibilidade da apostasia. Já Keith Stanglin, defende nesta obra que Armínio via a apostasia como algo possível de ocorrer.

A obra tem 65 páginas dividas em quatro capítulos. No primeiro capítulo, Apostasia e certeza: uma preocupação cristã, são mostrados alguns motivos pelos quais é importante se discutir a visão de Armínio a respeito do assunto.

No segundo capítulo, Armínio sobre a perseverança, Stanglin defende a tese de que Armínio acreditava na possibilidade real da apostasia, e que um erro de tradução dos textos originais de Armínio para o inglês seria o responsável pelo entendimento errôneo dos eruditos modernos a respeito do que pensava Jacó Armínio sobre o assunto.

No terceiro capítulo, Certeza, são abordados dois problemas pastorais que influenciaram os escritos de Armínio a respeito do tema. O primeiro problema foi a falta de certeza da salvação por parte de alguns fiéis da sua congregação. Essa falta de certeza acabou levando alguns para o que Armínio chamava de “desespero” ou “ausência de esperança”. O segundo problema, seria o oposto do primeiro.  Armínio testemunhou, na sua experiência pastoral, que alguns cristãos, presumivelmente embasados em Romanos 7, entendiam que nada do que eles fizessem ou deixassem de fazer interferiria na salvação.  Tal atitude frustrou Armínio no seu tempo como pastor. Armínio chamou esse estado de “ausência de cuidado”. A partir dessas situações práticas do dia-a-dia do seu ministério pastoral, Armínio concluiu que a doutrina calvinista não oferecia respostas contundentes para solucionar esses problemas, e que somente uma doutrina que levasse em consideração o desejo de Deus em salvar a todos (Expiação Ilimitada) e a possibilidade de se resistir à graça salvadora (Graça resistível) seria capaz de evitar esses extremos.

Por fim, nas Reflexões Prático-Teológicas, são feitas algumas reflexões a respeito do papel da justificação e da santificação no processo da salvação. Assim também, como o sistema calvinista e arminiano lidam com a doutrina da certeza da salvação, e como o sistema arminiano tem a melhor resposta para encontrar um meio termo entre o “desespero” e a “ausência de cuidado”.

A presente obra é uma excelente explanação do quinto ponto do Arminianismo. O profundo conhecimento da obra de Armínio, por parte do autor, confere a obra uma profundidade teológica ímpar. O único senão é o autor, em diversas passagens do livro, confundir “sistema calvinista” e “sistema reformado”. Ao fazer isso, inconscientemente, reforça o mito de que só é reformado quem é monergista. O mesmo desconsidera o fato de que a igreja reformada, até o Sínodo de Dort, convivia muito bem com as tradições monergista e sinergista. Isso, no entanto, não invalida a relevância da obra. Livro mais do que indicado.

 

 

Teoria e método teológico no pensamento de Jacó Armínio - Valdemir Pires Moreira

Nesse ensaio, Valdemir Pires propõe uma análise da teologia de Jacó Armínio, mostrando que este utilizava três fundamentos para a sua...