Diferentemente do que ensina a expiação limitada, doutrina que diz que Cristo morreu apenas para os eleitos, ou seja, aqueles que supostamente teriam sido escolhidos incondicionalmente a partir de um decreto divino, a expiação ilimitada entende que Cristo morreu por toda humanidade. No entanto, isso não quer dizer que todos serão salvos, como advoga o universalismo, mas que todos, sem exceção, podem ser salvos mediante a fé em Jesus Cristo.
Na presente obra, Carlos
Vailatti, em quatro capítulos distribuídos em 160 páginas, nos apresenta
algumas razões do porquê da doutrina da expiação ilimitada, doutrina essa que
corresponde ao segundo artigo da Remonstrância, ser mais coerente com as
Escrituras Sagradas do que a sua rival calvinista.
O primeiro capítulo, O conceito de expiação na Bíblia, trata
da definição do termo “expiação” nas línguas originais, começando pelo Antigo
Testamento hebraico, passando pela Septuaginta e culminando com o Novo
Testamento. É um capítulo técnico, onde após verificar a variedade do termo, o
autor chega à conclusão que “expiação”, de modo geral, significa a “ação por
meio da qual a culpa podia ser removida pelo pecador”. Conclui ainda, que essa
expiação é universal e que sempre parte de Deus para o pecador, nunca no
sentido contrário.
Ao longo da história,
surgiram várias teorias sobre a expiação. As principais delas são analisadas no
segundo capítulo, Teoria sobre a
expiação, ressaltando-se os pontos positivos e negativos de cada uma. É
importante salientar que nenhuma teoria sobre a expiação é suficientemente apta
para, isoladamente, explicar todo o real significado da grande obra de expiação
feita por Cristo. É necessário então, tomarmos emprestado o que há de melhor em
cada teoria para nos aproximarmos do real significado de tão grande obra.
No terceiro capítulo, A doutrina da expiação em Armínio, na
Remonstrância e nos Cânones de Dort, a doutrina da expiação é analisada nessas
três fontes. Após uma pesquisa introdutória nestes escritos, chega-se a
conclusão que os remonstrantes mantiveram-se fiéis aos ensinos de Armínio,
sendo seus legítimos “herdeiros”. Eles entendiam que a expiação é ilimitada por
intenção e extensão, pois Deus quer salvar a todos e Cristo morreu por toda a
humanidade. No entanto, ela é particular na sua aplicação, na medida em que
somente os que têm fé são salvos. Já os Cânones de Dort, ratificam a expiação
limitada em intenção, extensão e aplicação, afirmando que Cristo morreu apenas
para um grupo de eleitos previamente escolhidos por Deus.
No quarto e último capítulo,
Carlos Vailatti faz um trabalho de exegese dos principais textos da Bíblia
usados, tanto por calvinistas quanto por arminianos, para defenderem suas
respectivas visões quanto ao tipo de expiação. Esse capítulo é o ápice da obra,
pois muito provavelmente, para a maioria dos que adquirirem esse livro, o que
verdadeiramente interessa é a exegese dos textos bíblicos usados por ambos os
sistemas. Talvez por isso, o autor tenha dedicado mais da metade do livro para
este capítulo.
A obra cumpre bem o seu
objetivo: “demonstrar que a doutrina arminiana da expiação ilimitada... parece
ser a que melhor corresponde aos dados apresentados nas Escrituras acerca do
tema da morte de Cristo”. O autor acerta ao ser sucinto nos três primeiros
capítulos, que apesar de importantes, podem desmotivar o leitor leigo para o
prosseguimento da leitura. Como falado anteriormente, o quarto capítulo é o
ponto alto do livro, que por si só, já seria motivo suficiente para lê-lo. A forma
honesta e clara como expõe e refuta os argumentos calvinistas, merecendo
destaque a detalhada explanação de Romanos 9, tido por muitos como o “calcanhar
de Aquiles” do Arminianismo, mostra honestidade intelectual aliada à erudição
por parte do autor. Talvez o único senão, seja a desproporcionalidade entre a
quantidade de textos ditos “calvinistas” e “arminianos”. Foram escolhidos cinco
textos que dão suporte a teoria calvinista e nove para a arminiana. A exegese
de pelo menos mais dois, ou três, textos usados por calvinistas favoreceria uma
avaliação mais abrangente e equilibrada, mas isso em nada deprecia a obra, que é
leitura obrigatória para todos que querem fazer um estudo sério, sem
“espantalhos”, sobre o referido tema.

Nenhum comentário:
Postar um comentário