segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Expiação Ilimitada - Carlos Vailatti





Diferentemente do que ensina a expiação limitada, doutrina que diz que Cristo morreu apenas para os eleitos, ou seja, aqueles que supostamente teriam sido escolhidos incondicionalmente a partir de um decreto divino, a expiação ilimitada entende que Cristo morreu por toda humanidade. No entanto, isso não quer dizer que todos serão salvos, como advoga o universalismo, mas que todos, sem exceção, podem ser salvos mediante a fé em Jesus Cristo.

Na presente obra, Carlos Vailatti, em quatro capítulos distribuídos em 160 páginas, nos apresenta algumas razões do porquê da doutrina da expiação ilimitada, doutrina essa que corresponde ao segundo artigo da Remonstrância, ser mais coerente com as Escrituras Sagradas do que a sua rival calvinista.

O primeiro capítulo, O conceito de expiação na Bíblia, trata da definição do termo “expiação” nas línguas originais, começando pelo Antigo Testamento hebraico, passando pela Septuaginta e culminando com o Novo Testamento. É um capítulo técnico, onde após verificar a variedade do termo, o autor chega à conclusão que “expiação”, de modo geral, significa a “ação por meio da qual a culpa podia ser removida pelo pecador”. Conclui ainda, que essa expiação é universal e que sempre parte de Deus para o pecador, nunca no sentido contrário.

Ao longo da história, surgiram várias teorias sobre a expiação. As principais delas são analisadas no segundo capítulo, Teoria sobre a expiação, ressaltando-se os pontos positivos e negativos de cada uma. É importante salientar que nenhuma teoria sobre a expiação é suficientemente apta para, isoladamente, explicar todo o real significado da grande obra de expiação feita por Cristo. É necessário então, tomarmos emprestado o que há de melhor em cada teoria para nos aproximarmos do real significado de tão grande obra.

No terceiro capítulo, A doutrina da expiação em Armínio, na Remonstrância e nos Cânones de Dort, a doutrina da expiação é analisada nessas três fontes. Após uma pesquisa introdutória nestes escritos, chega-se a conclusão que os remonstrantes mantiveram-se fiéis aos ensinos de Armínio, sendo seus legítimos “herdeiros”. Eles entendiam que a expiação é ilimitada por intenção e extensão, pois Deus quer salvar a todos e Cristo morreu por toda a humanidade. No entanto, ela é particular na sua aplicação, na medida em que somente os que têm fé são salvos. Já os Cânones de Dort, ratificam a expiação limitada em intenção, extensão e aplicação, afirmando que Cristo morreu apenas para um grupo de eleitos previamente escolhidos por Deus.

No quarto e último capítulo, Carlos Vailatti faz um trabalho de exegese dos principais textos da Bíblia usados, tanto por calvinistas quanto por arminianos, para defenderem suas respectivas visões quanto ao tipo de expiação. Esse capítulo é o ápice da obra, pois muito provavelmente, para a maioria dos que adquirirem esse livro, o que verdadeiramente interessa é a exegese dos textos bíblicos usados por ambos os sistemas. Talvez por isso, o autor tenha dedicado mais da metade do livro para este capítulo.

A obra cumpre bem o seu objetivo: “demonstrar que a doutrina arminiana da expiação ilimitada... parece ser a que melhor corresponde aos dados apresentados nas Escrituras acerca do tema da morte de Cristo”. O autor acerta ao ser sucinto nos três primeiros capítulos, que apesar de importantes, podem desmotivar o leitor leigo para o prosseguimento da leitura. Como falado anteriormente, o quarto capítulo é o ponto alto do livro, que por si só, já seria motivo suficiente para lê-lo. A forma honesta e clara como expõe e refuta os argumentos calvinistas, merecendo destaque a detalhada explanação de Romanos 9, tido por muitos como o “calcanhar de Aquiles” do Arminianismo, mostra honestidade intelectual aliada à erudição por parte do autor. Talvez o único senão, seja a desproporcionalidade entre a quantidade de textos ditos “calvinistas” e “arminianos”. Foram escolhidos cinco textos que dão suporte a teoria calvinista e nove para a arminiana. A exegese de pelo menos mais dois, ou três, textos usados por calvinistas favoreceria uma avaliação mais abrangente e equilibrada, mas isso em nada deprecia a obra, que é leitura obrigatória para todos que querem fazer um estudo sério, sem “espantalhos”, sobre o referido tema.


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