Cidade dos Etéreos, escrito
pelo autor norte-americano Ransom Riggs, é a continuação do Lar da Senhorita Peregrine para Crianças
Peculiares, e começa exatamente como termina o primeiro livro. As crianças
peculiares, juntamente com a Sra Peregrine, em forma de ave, pois a mesma foi
ferida na sua luta contra os acólitos e agora não pode voltar à forma humana, em
barcos navegando em mar aberto à procura de uma outra fenda temporal, já que a
fenda onde eles habitavam foi descoberta pelos seus inimigos.
Então a tônica do livro é
essa. Encontrar outra fenda temporal, onde haja uma Ymbryne que possa ajudar a
Sra Peregrine a retorna a forma humana. Nessa busca, eles viajam no tempo, se
deparam com outras criaturas peculiares e com seus inimigos, etéreos e
acólitos.
O livro tem momentos de
muita ação, mas também momentos de monotonia. Apesar disso o final salva a
obra, pois é muito surpreendente, fazendo com que a leitura do terceiro, e
último, livro da série, se torne quase que obrigatória.
Salvação integral é o
primeiro livro de Marlon Marques, pastor metodista e estudioso da obra de John
Wesley, que discorre sobre a contribuição teológica do mesmo no âmbito pessoal
e social. A obra é divida em três capítulos.
No primeiro capítulo, A Soteriologia Arminiana de John Wesley e do
Wesleyanismo em Geral, Marlon Marques aborda especificamente a soteriologia
de Wesley, primeiramente refutando as acusações de que ele seria pelagiano ou
semi-pelagiano, e em seguida, mostrando que a teologia wesleyana está de acordo
com cada um dos cinco pontos do Arminianismo, a saber, Depravação Total, Eleição Condicional, Expiação Ilimitada, Graça
Resistível e Possibilidade de Apostasia.
No capítulo dois, Caminho da Salvação na Tradição Wesleyana, são
abordadas as três etapas da graça de acordo com entendimento de John Wesley. A Graça Preveniente, responsável por
restaurar o livre arbítrio humano a fim de que este possa prestar contas com
Deus. A Graça Justificadora, que
justifica o ser humano. Vale ressaltar aqui o fato de que Wesley entendia que a
justificação antecedia a santificação. Já que “Deus justifica pecadores, e não
santos”. E por fim, A Graça
Santificadora, que permite que o cristão seja perfeito, ou seja, não cometa
pecados conscientes.
No terceiro capítulo, Missão Plena (ou Integral) em John Wesley,
o autor destaca que o wesleyanismo, por ser predominantemente pós-milenista,
possui uma visão otimista do final dos tempos. Tal visão escatológica entende
que a expansão do evangelho fará com que ocorra uma grande transformação social
no mundo. Daí a grande ênfase de Wesley ao evangelho social. São abordados
também alguns aspectos de semelhança do wesleyanismo com a Teologia da
Libertação e com a Teologia da Missão Integral. Merece também destaque a
contribuição de Charles Wesley, irmão de John Wesley, para as causas sociais.
Livro imprescindível para
todos que pretendem ser introduzidos no grandioso legado de John Wesley. Obra
sucinta, mas bem fundamenta com citações do próprio Wesley, revelando uma
acurada pesquisa por parte do autor. O ponto alto da obra é o capítulo três,
onde podemos ver como John Wesley atuou de maneira relevante na sociedade em
que vivia, não só como um pregador do evangelho, mas como um instrumento de
mudança social. Destaque para a sua luta contra a escravidão. Wesley, com a
coragem de um João Batista, denunciou e confrontou os comerciantes de escravos a
respeito de tão hedionda prática. Que no presente século surjam mais homens e
mulheres com a intrepidez de um John Wesley para sacudir as nações.
O livro Perseverança dos Santos é uma expansão de algumas
palestras proferidas por Keith Stanglin, considerado um especialista na obra de
Jacó Armínio, em algumas cidades no Brasil no ano de 2016.A tradução coube a Wellington Mariano, também
um grande estudioso do assunto e autor do livro O que Teologia Arminiana?
Os arminianos em geral não são unânimes no que diz respeito à
doutrina da perseverança dos Santos. É quase consenso que Jacó Armínio não se
posicionou a respeito do assunto, deixando a cargo das gerações futuras a
tarefa de aprofundarem o estudo do tema. No entanto, alguns estudiosos afirmam
que Armínio nunca defendeu a possibilidade da apostasia. Já Keith Stanglin,
defende nesta obra que Armínio via a apostasia como algo possível de ocorrer.
A obra tem 65 páginas dividas em quatro capítulos. No
primeiro capítulo, Apostasia e certeza:
uma preocupação cristã, são mostrados alguns motivos pelos quais é
importante se discutir a visão de Armínio a respeito do assunto.
No segundo capítulo, Armínio
sobre a perseverança, Stanglin defende a tese de que Armínio acreditava na
possibilidade real da apostasia, e que um erro de tradução dos textos originais
de Armínio para o inglês seria o responsável pelo entendimento errôneo dos
eruditos modernos a respeito do que pensava Jacó Armínio sobre o assunto.
No terceiro capítulo, Certeza,
são abordados dois problemas pastorais que influenciaram os escritos de
Armínio a respeito do tema. O primeiro problema foi a falta de certeza da
salvação por parte de alguns fiéis da sua congregação. Essa falta de certeza
acabou levando alguns para o que Armínio chamava de “desespero” ou “ausência de
esperança”. O segundo problema, seria o oposto do primeiro.Armínio testemunhou, na sua experiência
pastoral, que alguns cristãos, presumivelmente embasados em Romanos 7, entendiam
que nada do que eles fizessem ou deixassem de fazer interferiria na
salvação.Tal atitude frustrou Armínio
no seu tempo como pastor. Armínio chamou esse estado de “ausência de cuidado”.
A partir dessas situações práticas do dia-a-dia do seu ministério pastoral,
Armínio concluiu que a doutrina calvinista não oferecia respostas contundentes
para solucionar esses problemas, e que somente uma doutrina que levasse em
consideração o desejo de Deus em salvar a todos (Expiação Ilimitada) e a
possibilidade de se resistir à graça salvadora (Graça resistível) seria capaz
de evitar esses extremos.
Por fim, nas Reflexões
Prático-Teológicas, são feitas algumas reflexões a respeito do papel da
justificação e da santificação no processo da salvação. Assim também, como o
sistema calvinista e arminiano lidam com a doutrina da certeza da salvação, e
como o sistema arminiano tem a melhor resposta para encontrar um meio termo
entre o “desespero” e a “ausência de cuidado”.
A presente obra é uma excelente explanação do quinto ponto do
Arminianismo. O profundo conhecimento da obra de Armínio, por parte do autor,
confere a obra uma profundidade teológica ímpar. O único senão é o autor, em
diversas passagens do livro, confundir “sistema calvinista” e “sistema
reformado”. Ao fazer isso, inconscientemente, reforça o mito de que só é
reformado quem é monergista. O mesmo desconsidera o fato de que a igreja
reformada, até o Sínodo de Dort, convivia muito bem com as tradições monergista
e sinergista. Isso, no entanto, não invalida a relevância da obra. Livro mais
do que indicado.
João Pereira Coutinho é um
cientista político português e professor da Universidade Católica Portuguesa.
Na presente obra, lançando mão das ideias de gigantes do conservadorismo, como
Edmund Burke, Roger Scruton, John Kekes entre outros, traça um perfil geral das
principais ideias conservadoras.
No primeiro capítulo, As Ideias Conservadoras, o autor trata
de diferenciar o conservador, do progressista e do reacionário. Enquanto estes
são utópicos, o progressista buscando uma felicidade futura e o reacionário uma
felicidade passada, o conservador é alguém que se posiciona contra uma ameaça
real aos fundamentos institucionais da sociedade.
O segundo capítulo, Imperfeição humana, mostra que todo
conservador crê que o ser humano é imperfeito. Por isso, o conservador é antes
de tudo um pessimista.Daí a sua recusa
em abraçar as utopias que prometem um mundo ideal. O político conservador então
deverá sempre adotar o meio termo entre os extremos progressistas e
reacionários.
O
Sentido da Realidade é o título do terceiro capítulo e mostra que
é preciso que o estadista conservador entenda a realidade tal como ela é, e não
como deveria ser, segundo os seus sonhos ou projetos. É primordial a esse
estadista afastar a “falácia agregadora” de que fala Roger Scruton, falácia essa
de que todos os valores serão combinados na sua expressão máxima. Cabe ao
estadista conservador adotar uma maleabilidade capaz de escolher valores
mínimos, decorrentes da natureza humana universal que indicará aquilo que devemos
fazer ou não.
No quarto capítulo, Os testes do tempo, Coutinho aborda o
fato de que os conservadores valorizam as tradições porque estas passaram pelo
teste do tempo. As tradições se mostraram válidas para as gerações passadas,
por isso chegaram até nós. É preciso então saber o que conservar, antes de
começar a reformar.
Em seguida, no quinto
capítulo, A reforma prudente, são
traçados algumas diretrizes para uma reforma que vê na tradição “um relevante
papel educacional, epistemológico e político”. Em qualquer reforma a perda é inevitável
e o ganho apenas possível, daí a necessidade de prudência. A mudança deve ser
pontual, a fim de se corrigir um defeito específico e preservar o que se
encontra em risco.
No sexto capítulo, “A sociedade comercial”, o autor defende
que dentre os diversos sistemas econômicos, o livre comércio é o que melhor
representa os valores conservadores, visto que esse sistema leva em
consideração as escolhas livres e naturais dos indivíduos, o que não ocorre nos
sistemas econômicos coletivistas e centralizados. A função do Estado, então,
seria garantir o funcionamento dessa sociedade de livre comércio.
E por fim, Conservadores ou monomaníacos: uma conclusão,
é feita uma revisitação de alguns conceitos importantes abordados nos capítulos
anteriores a fim de ser traçar um perfil de um governo conservador, tratando
de, veementemente, diferenciá-lo de um governo progressista ou reacionário.
Em um país onde o sistema de
ensino e a mídia estão tomados pelo “progressismo”.Onde o termo “conservador” tornou-se um
anátema. O presente livro vem para dirimir dúvidas e colocar os “pingos nos is”.
Livro mais do que essencial para entendermos o verdadeiro conservadorismo e
fugirmos dos estereótipos.
Diferentemente do que ensina
a expiação limitada, doutrina que diz que Cristo morreu apenas para os eleitos,
ou seja, aqueles que supostamente teriam sido escolhidos incondicionalmente a
partir de um decreto divino, a expiação ilimitada entende que Cristo morreu por
toda humanidade. No entanto, isso não quer dizer que todos serão salvos, como
advoga o universalismo, mas que todos, sem exceção, podem ser salvos mediante a
fé em Jesus Cristo.
Na presente obra, Carlos
Vailatti, em quatro capítulos distribuídos em 160 páginas, nos apresenta
algumas razões do porquê da doutrina da expiação ilimitada, doutrina essa que
corresponde ao segundo artigo da Remonstrância, ser mais coerente com as
Escrituras Sagradas do que a sua rival calvinista.
O primeiro capítulo, O conceito de expiação na Bíblia, trata
da definição do termo “expiação” nas línguas originais, começando pelo Antigo
Testamento hebraico, passando pela Septuaginta e culminando com o Novo
Testamento. É um capítulo técnico, onde após verificar a variedade do termo, o
autor chega à conclusão que “expiação”, de modo geral, significa a “ação por
meio da qual a culpa podia ser removida pelo pecador”. Conclui ainda, que essa
expiação é universal e que sempre parte de Deus para o pecador, nunca no
sentido contrário.
Ao longo da história,
surgiram várias teorias sobre a expiação. As principais delas são analisadas no
segundo capítulo, Teoria sobre a
expiação, ressaltando-se os pontos positivos e negativos de cada uma. É
importante salientar que nenhuma teoria sobre a expiação é suficientemente apta
para, isoladamente, explicar todo o real significado da grande obra de expiação
feita por Cristo. É necessário então, tomarmos emprestado o que há de melhor em
cada teoria para nos aproximarmos do real significado de tão grande obra.
No terceiro capítulo, A doutrina da expiação em Armínio, na
Remonstrância e nos Cânones de Dort, a doutrina da expiação é analisada nessas
três fontes. Após uma pesquisa introdutória nestes escritos, chega-se a
conclusão que os remonstrantes mantiveram-se fiéis aos ensinos de Armínio,
sendo seus legítimos “herdeiros”. Eles entendiam que a expiação é ilimitada por
intenção e extensão, pois Deus quer salvar a todos e Cristo morreu por toda a
humanidade. No entanto, ela é particular na sua aplicação, na medida em que
somente os que têm fé são salvos. Já os Cânones de Dort, ratificam a expiação
limitada em intenção, extensão e aplicação, afirmando que Cristo morreu apenas
para um grupo de eleitos previamente escolhidos por Deus.
No quarto e último capítulo,
Carlos Vailatti faz um trabalho de exegese dos principais textos da Bíblia
usados, tanto por calvinistas quanto por arminianos, para defenderem suas
respectivas visões quanto ao tipo de expiação. Esse capítulo é o ápice da obra,
pois muito provavelmente, para a maioria dos que adquirirem esse livro, o que
verdadeiramente interessa é a exegese dos textos bíblicos usados por ambos os
sistemas. Talvez por isso, o autor tenha dedicado mais da metade do livro para
este capítulo.
A obra cumpre bem o seu
objetivo: “demonstrar que a doutrina arminiana da expiação ilimitada... parece
ser a que melhor corresponde aos dados apresentados nas Escrituras acerca do
tema da morte de Cristo”. O autor acerta ao ser sucinto nos três primeiros
capítulos, que apesar de importantes, podem desmotivar o leitor leigo para o
prosseguimento da leitura. Como falado anteriormente, o quarto capítulo é o
ponto alto do livro, que por si só, já seria motivo suficiente para lê-lo. A forma
honesta e clara como expõe e refuta os argumentos calvinistas, merecendo
destaque a detalhada explanação de Romanos 9, tido por muitos como o “calcanhar
de Aquiles” do Arminianismo, mostra honestidade intelectual aliada à erudição
por parte do autor. Talvez o único senão, seja a desproporcionalidade entre a
quantidade de textos ditos “calvinistas” e “arminianos”. Foram escolhidos cinco
textos que dão suporte a teoria calvinista e nove para a arminiana. A exegese
de pelo menos mais dois, ou três, textos usados por calvinistas favoreceria uma
avaliação mais abrangente e equilibrada, mas isso em nada deprecia a obra, que é
leitura obrigatória para todos que querem fazer um estudo sério, sem
“espantalhos”, sobre o referido tema.